Maria da Graça ganhou este nome devido a uma promessa do pai, Luís Floriano Meneghel. Em plena sala de parto, ele soube que a mulher, Alda, e o bebê corriam risco de vida. Mas a menina, que nasceu saudável naquele 27 de março de 1963, em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, ganhou o
mundo como Xuxa.
O apelido foi dado à caçula da família por Bladimir, quarto dos cinco filhos do casal - tão logo pôs os olhos nela a chamou assim. Para uma pessoa que um dia seria conhecida como "Rainha", a infância de Xuxa foi modesta, embora divertida. Como ela mesma viria um dia a declarar, na cesta de frutas que ficava à mesa da cozinha da casa de seus pais havia somente duas opções: laranja e banana. Xuxa cresceu cercada pelas atenções dos irmãos, Solange Aldaiz, Mara Rúbia, Cirano Rojagabaglia e Bladimir. O pai era militar, muito rígido, mas carinhoso com os filhos. Uma das mais gratas lembranças da apresentadora são as festas de Páscoa, durante as quais Floriano e Alda preparavam cestinhas com chocolates para as crianças. Xuxa adorava os doces, mas era avessa a leite e não gostava de carne. Muito magra quando criança, ela ganhou o apelido de Olívia Palito. A opção pelo vegetarianismo foi precoce, aos 13 anos. Até hoje é assim:
- Tenho um gosto meio esquisito para comer - diz ela. - Adoro comida queimada, batata frita queimada, pizza queimada, batata doce queimada, arroz empapado. Não sou fã de carne vermelha. Infelizmente, chocolate é minha fraqueza, o que significa desânimo para o meu preparador físico. Faço alimentação hipernatural, mas caio de boca no chocolate. Eu gostaria que a Sasha não comesse carne vermelha. Acho que não precisa se ela se alimentar com frango e bastante frutos do mar. Mas, se um dia ela quiser, eu vou levá-la a uma churrascaria. Vou ter que agüentar o cheiro de carne, mas vou. Só que prefiro comer a minha saladinha.
A infância da apresentadora foi alegre e marcada por inesquecíveis banhos no rio Uruguai. Aos 7 anos, foi morar com a família no Rio de Janeiro, no bairro de Santa Cruz. Depois se mudaram para Bento Ribeiro, em outra parte da cidade, e Floriano comprou uma casa de praia em Coroa Grande, para onde a família viajava - de trem - nos fins de semana. O lugar era modesto, não tinha sequer geladeira. Na divisão de tarefas entre os irmãos, coube a Xuxa a limpeza da cozinha e do banheiro. A alegria era tanta que a casa ainda pertence à família e a apresentadora garante que é capaz de reconhecer cada árvore até hoje. Ela tem um vínculo muito forte com a natureza.
- Gosto de mato, de bicho. Isso para mim é tudo. Eu olho essas árvores aqui, em Vargem Grande, e penso: que lindas, são minhas, estão na minha casa. Por Deus do céu, acho lindas essas plantas... Às vezes, fico sentada no degrau da escada da casinha de hóspedes admirando... Por muito tempo, vivi em apartamento em que eu tinha plantinhas nos vasinhos. E agora eu tenho planta para cuidar em casa, planto para olhar. Sempre me amarrei muito em verde. É meu chão, terra que comprei com o meu trabalho. É muito bom ter tudo isso. O que eu tenho consegui através do trabalho. Dou muito valor às coisas que eu tenho, mas não sei quanto elas custam.
A vida de Xuxa começou a mudar aos 15 anos. Ela estava no trem quando foi vista por um funcionário da Bloch Editores, que a seguiu até a porta de casa e propôs que ela fizesse um teste para ser modelo. Aos 16 anos, a Rainha apareceu na revista “Carinho” e nunca mais parou. Por causa deste turbilhão profissional, a apresentadora teve uma adolescência atípica, dedicada ao trabalho.
- Eu cresci num mundo diferente, trabalhando desde os meus 16 anos até agora. Eu namorei gente conhecida, dediquei a vida toda aos meus compromissos.... Não sei se é a fama que me impede ou os meus princípios, mas às vezes dá vontade de sair por aí e namorar, namorar todos os namorados que eu não tive. Mas eu não posso. Olha quem eu sou... E acabo levando essa proibição na brincadeira.
Aos 17 anos, Xuxa participou de um concurso promovido por Ricardo Amaral, o Garota Pantera, e ganhou o primeiro lugar. O prêmio foi uma passagem para Nova York. Em 1980, Xuxa conheceu Pelé ao posar para a capa da revista Manchete junto com ele, Luiza Brunet e Márcia Brito. Depois da sessão de fotos, ele a convidou para jantar e assistir a um show de Elis Regina. No dia seguinte, foram juntos dançar na boate Régine´s, no Hotel Méridien. O romance foi acontecendo à medida em que o jogador de futebol a conquistava com buquês de flores e outros gestos carinhosos. Foi uma grande paixão. Eles ficaram juntos por seis anos. Nesta época, ela posou nua para as revistas “Playboy”, “Status” e “Ele & Ela”. A carreira de modelo emplacou e, assim como Luiza Brunet, Xuxa foi um dos grandes símbolos sexuais do Brasil nos anos 80. Isto antes de se tornar parte do cast da Ford Models, mesma agência de Brooke Shields e de outros célebres nomes internacionais. Em 83, Xuxa iniciou sua carreira de apresentadora de TV na Manchete, em “O clube da criança”, levada por Maurício Sherman. Lá, conheceu Marlene Mattos, sua empresária até junho de 2002. Dois anos mais tarde, recebeu uma proposta da Rede Globo e estreou o “Xou da Xuxa”. Em 88, com a carreira consolidada na nova emissora, veio uma grande paixão - Ayrton Senna. O casal se separou em 90, mas este amor Xuxa nunca esqueceu.
8- Muita coisa boa aconteceu entre mim e o Senna - lembra ela. - Ele era o tipo de pessoa que não falava o que queria. Ele fazia. E eu fiquei com ele um ano e seis meses, muito tempo. Ele não deixava nada para amanhã. Foi intenso este pouco tempo em que a gente ficou junto. Não dá para dizer o que houve de mais importante ou bonito entre nós. Cada vez que a gente ficava junto, não tinha espaço para mais nada.
A grande mudança na vida de Xuxa foi em julho de 98, com o nascimento de Sasha, sua filha com o modelo e empresário Luciano Szafir. A apresentadora mudou sua vida por causa de Sasha. Ela reconhece que a chegada da menina significou uma verdadeira revolução na sua maneira de ver a vida:
- Tive que aprender a segurar um pouco mais a minha ansiedade - admite. - Tem o tempo da Sasha agora. Antes, o mundo realmente girava em torno da minha cabeça, dos meus braços e dos meus pés. Hoje, não. Meu mundo agora é o mundo dela. Estou fazendo coisas que nunca fiz. Vou ao playground ficar vendo ela brincar. E vou amarradona, acho o melhor programa do mundo.
Até as férias, que tira religiosamente todo ano, hoje são decididas em função da menina.
- Antigamente eu ia curtir minhas férias pegando sol. Agora viajo para a Disney, vejo uma peça infantil ou vou a lugares em que existam restaurantes bons para ela. É importante que eu faça essas coisas porque, vendo que ela está bem, me sinto muito bem. É uma coisa impressionante. Meu tempo é outro agora, meu gosto também. Minha felicidade é a felicidade dela. Minha preferência é a preferência dela, minhas vontades são as dela. O lugar que eu mais gosto no mundo é aquele onde a minha filha estiver, qualquer lugar. Agora, quando eu não estou com a minha filha, me amarro em ficar no meu quartinho. Adoro meu quarto para dormir, escurinho e geladinho... E gosto muito de Fortaleza para pegar sol, Orlando para brincar com a minha filha e Nova York para fazer compras.
As preocupações também aumentaram:
- Temo pela saúde da Sasha. Peço sempre a Deus que ela não tenha sequer uma gripe. Se eu pudesse, não a veria nunca doente. Depois, vem a segurança. E, quando ela chora, penso que não gostaria nunca que ela ficasse triste. Não quero que ela sofra. Se um dia ela levar um tombo ou um tapa de alguém, se falarem brusco com ela, fico pensando como isso vai bater na cabecinha dela. Se eu pudesse, eu a protegeria de tudo que pudesse fazê-la sofrer. Não sei o que ela sofreu em outras vidas, mas sei que nessa vida vou protegê-la de todo mal. Desta vez não quero que ela sofra nem com uma unha encravada.
Graças à maternidade, Xuxa, que nunca foi chegada a badalações, tem ficado cada vez mais em casa. Os amigos, sempre bem-vindos, dividem com a apresentadora as alegrias da maternidade:
- Odeio lugar com cheiro de fumaça, não suporto gente falando bobeira. Por isso não vou a certas festas. Fico muito mal quando sei que tem gente que só chega perto de mim porque acha que pode tirar algum proveito. A minha vida social hoje é realmente nenhuma. Eu costumava jogar cartas com meus amigos, e hoje gosto de ficar com a minha filha. Meus amigos são convidados a fazer esse “programa de indiozinho” comigo. Vir aqui e brincar.
Madura e tranqüila, Xuxa sabe que conquistou uma situação de vida que poucos têm. Ela diz, porém, que sua riqueza material não é nem de longe tão importante quanto o carinho dos que a cercam.
- Amo meu trabalho, amo minha vida - comemora. - Sou uma pessoa de muita sorte. Não por ter conseguido as coisas materiais que obtive. As pessoas gostam de dizer que eu sou feliz porque tenho dinheiro. Mas o que importa é que eu sou saudável, tenho família, amigos. Não sei o que isso significa para quem olha de fora. Sinto que às vezes me aplaudem, às vezes me invejam. Não sei como as pessoas me vêem, até queria saber. Se eu pudesse, entrevistaria os outros como fazem comigo. Não sei se eu sou uma pessoa diferente, mas alguma coisa eu tenho que ter de especial.
Xuxa já vendeu mais de 20 milhões de discos. O CD “Xuxa só para baixinhos 2” rendeu à apresentadora o Grammy Latino de 2002 de Melhor Álbum Infantil. É capaz de atrair tantos espectadores ao cinema que seus filmes “Xuxa requebra” e “Pop Star” foram os recordistas de público no Brasil em 1999 e 2000, respectivamente. Ao todo, já estrelou doze longas-metragens, sendo “Xuxa e os duendes 2 – No caminho das fadas” (2002) o mais recente deles. Mesmo assim, ela não se considera atriz nem cantora. É a TV sua grande paixão:
- Não canto nem interpreto especialmente. Sou uma apresentadora e preciso passar mensagens através da música e de vez em quando atuo num filme. Gosto de tudo em termos de programa de televisão, gosto de saber o que está acontecendo. Até os piores programas, que as pessoas falam mal, eu gosto de ver. Sabe aqueles bem horríveis? Eu gosto.
Xuxa vive em permanente busca espiritual. Embora não freqüente nenhuma igreja, tem formação católica e se considera uma pessoa religiosa.
- Sou católica. Converso com o “cara lá de cima”, mas não tanto quanto antigamente. Quando eu era pequenininha, tinha uma linha direta com Ele. Às vezes, pergunto alguma coisa a Ele e, no decorrer do dia, aparece uma resposta ao que eu perguntei. Pode ser através de uma carta, um telefonema. Não vou à igreja nem pego a Bíblia. A pessoa que me faz realmente lembrar que eu sou católica é o padre Marcelo. Eu sou católica porque não tenho medo ou vergonha de erguer as mãos e rezar com ele.
Quando não está trabalhando, Xuxa gosta de se cuidar. Tem um personal trainer e gosta de ler tudo que diga respeito à boa forma. Não é à toa que ela considera Demi Moore e o falecido John-John - duas pessoas que sempre se dedicaram ao preparo físico - seus modelos de beleza:
- Eu gostava de ler livros de criança. Depois, passei a me interessar por mistérios de outras vidas. Agora, leio muito sobre cuidados com a pele, alimentação. E me interesso por como fazer para me manter bem, saudável, essas coisas. Não acho que eu seja muito vaidosa, não. Gosto de usar roupas folgadas, training e, no verão, biquíni. Mas tenho mania de limpeza. Minhas unhas têm que estar limpas. Tenho mania de fazer a unha toda semana, de passar fio dental nos dentes e de tomar banho. A minha vaidade é normal e meu trabalho pede.
Apesar de ter conquistado o mundo, Xuxa ainda tem sonhos a realizar. Um deles é de consumo:
- Aqui no Rio de Janeiro há praias maravilhosas e ainda desertas. Se eu pudesse, compraria um terreno e faria uma casa à beira-mar num lugar incrível desses. Um lugar que não tenha muro, de onde eu desça e dê no mar.
O outro desejo não é de consumo. Trata-se de um sonho que ela mesma admite que talvez nunca venha a realizar:
- Queria ter outro filho, mas isso não quer dizer que eu venha a levar esse projeto adiante.
